white lies



(Portuguese text below the images)

“Simões is also presenting a new series of six column-like works made from concrete and copy paper. The six pieces are arranged in a grid, as if they were pylons for an imaginary building in the process of being built or demolished. Paper and concrete seem to cascade toward the ground or climb skyward in a regular pattern, frozen a moment before each pillar topples. Knowing the Abismos are held together by tension alone, one might assume—incorrectly—the new gravity-defying columns are too. Instead, Simões has hidden a network of stabilizing rods inside these precarious-looking pieces, giving them an unexpected structural soundness at odds with their appearance.

Before becoming an artist, Simões was an architect. He has long been interested in the promises, failures, and whiteness of modern architecture. Most major architects in the 20th century were white men. That the six columns in this show are mostly paper (and white) would be less than ideal if they were actually load-bearing. And yet—these sculptures thwart expectations. Sculptures and buildings both evolve in unexpected ways between their conception, design, construction, and use by their eventual owners. Their stories are more complex than a cursory glance reveals.

Pruitt-Igoe, for example, was an urban housing project in St. Louis built in the 1950s. Its 33 high-rise buildings were designed to replace the city’s slums, which were dirty, unsafe, and crime-ridden. Early brochures promoting the project boasted of indoor plumbing, electric lights, and wide lawns on which children could safely play. But not long after opening its doors, things turned south: elevators broke, vandalism festered, piles of trash accumulated in the hallways. White people moved out, to the suburbs, leaving poor African-Americans behind. Drug dealing and prostitution became rampant. Pruitt-Igoe had come to resemble the slums it was meant to replace. 20 years after it was built, the governor of Missouri ordered it to be torn down.

Recent interviews with residents of Pruitt-Igoe, however, offer a different perspective from the uncompromisingly negative one put forth by the media. Some say it was a warm, friendly place to live—where neighbors felt like family. For many, Pruitt-Igoe was home. Drawing easy conclusions based on outward appearances should be avoided. (The close-knit community of Pruitt-Igoe is similar in ways to the internal supporting structure in Simões’s new columnar sculptures—invisible from the outside but kept/keeps the whole thing standing.)

Many factors led to Pruitt-Igoe’s downfall. With so many moving parts—the architect, city, politicians, residents—no one could have predicted the project’s trajectory. When designing spaces, artworks, or even his own life, uncertainty is the most interesting component for Simões. He makes precise renderings of his sculptures with architectural software before producing them. But perfection is not as easily achieved when casting concrete by hand or aligning hundreds of sheets of paper as it is when using a line tool in CAD. Given time, the concrete in Simões’s sculptures might develop micro-cracks and the paper might curl—analogous to Pruitt-Igoe changing over the years. What unites sculptures and buildings and people? All are alive and often unpredictable.

Simões’s work is about buildings—their stability and failure, the promises their architects make and the consequences of their existence. The idiom in the title of the show, White Lies, implies a certain harmlessness. But thinking about the phrase in terms of race, instead, encourages a reconsideration of modern architecture, the people at its helm, and its effects on the world”

extract from the text by Colin Doyle for the White Lies exhibiiton




White lies (vers une architecture), 2018
metal, papel e concreto
metal, paper and concrete
variable dimensions [grid of 6 pilotis]
comissioned for the exhibition
“Experimentanto Le Corbusier”
at Museu da casa Brasileira , São Paulo





White Lies 5, 2017
concreto, papel, folha dourada e aço
concrete, paper, gold leaf, and steel
37-3/8 x 15 x 14 inches


White Lies 6, 2017
concreto, papel, folha dourada e aço
concrete, paper, gold leaf, and steel
54-1/4 x 12 x 9-1/2 inches




White Lies 8, 2017
concreto, papel e aço
concrete, paper, and steel
30 x 15 x 9-1/4 inches


White Lies 7, 2017
concreto, papel, folha dourada e aço
concrete, paper, gold leaf, and steel
57 x 13-1/4 x 10-3/4 inches


White Lies 4, 2017
concreto, papel e aço
concrete, paper, and steel
40-1/4 x 20-3/4 x 8-3/4 inches


White Lies 9, 2017
concreto, papel e aço
concrete, paper, and steel
33-1/2 x 12-1/2 x 11-1/2 inches


White Lies 2, 2017
concreto, papel, folha dourada e aço
concrete, paper, gold leaf, and steel
54-1/4 x 12 x 9-1/2 inches

White Lies 23, 2018
concreto, papel, folha de cobre e aço
concrete, paper, copper leaf, and steel


White Lies 27, 2020
concreto, papel,  aço e pintura em poliuretano
concrete, paper, steel and polyurethane paint

Texto em português

“Simões apresenta também uma serie de seis trabalhos em formato de coluna, realizados em concreto e papel de cópia. As seis peças estão dispostas em uma malha, como fossem pilares de uma edificação imaginaria em processo de construção ou demolição. Papel e concreto parecem estar prestes a cair ou escalar para o céu em um diagrama ordenado, congelado um momento antes de desabar. Sabendo que os Abismos se seguram apenas sob a própria tensão, pode parecer, incorretamente, que o mesmo principio se aplique à essas colunas que desafiam a gravidade. Ao contrario, Simões escondeu uma malha de vergalhões dentro dessas peças aparentemente precárias, garantindo uma inesperada solidez que contradiz suas aparências.

Antes de se tornar artista, Simões era arquiteto. Foi por muito tempo interessado pelas promessas, falimentos e branquidão da arquitetura moderna. A maioria dos mais importantes arquitetos do século XX foram homens brancos. Aquelas seis colunas desta exposição, feitas principalmente de papel (também branco), seriam inadequadas se carregassem, de fato, uma carga. Mesmo assim, essas esculturas contrariam as expectativas. Tanto as esculturas quanto as edificações evoluem de maneiras inesperada ente sua concepção, projetação, construção e uso dos eventuais proprietários. Sues historias são mais complexas de quanto um olhar desatento possa revelar.

Pruitt-Igoe, por exemplo, foi um projeto de habitação social construído em St. Louis (EUA) na década de 50. Suas torres de 33 andares foram pensadas para substituir os assentamentos informais que eram insalubres, inseguros e com alta criminalidade. As primeiras propagandas ressaltavam os encanamentos embutidos, a luz elétrica e os amplos gramados onde as crianças pudessem brincar. Não muito tempo depois de sua inauguração, as coisas começaram desandar: os elevadores quebravam, atos vandálicos se agravavam, pilhas de lixo se acumulavam nos corredores. A população branca se mudou então para os subúrbios, deixando para trás os Afro-Americanos pobres. Trafego e prostituição generalizaram-se. Pruitt-Igoe se tornou semelhante às favelas que deveria ter substituído. 20 anos após sua construção, o governador de Missouri ordenou sua demolição.       

Entrevistas recentes a moradores do Pruitt-Igoe, porem, oferecem uma perspectiva diferente daquela drasticamente negativa perpetuada  pela media. Alguns relataram que era um lugar acolhedor e amigável de se morar, onde os vizinhos se tornaram familiares. Para muitos, Pruitt-Igoe era casa. Chegar a conclusões fáceis baseadas nas aparências deveria ser evitado. (A comunidade coesa do Pruitt-Igoe relembra as estruturas internas das novas colunas de Simões, invisível de fora, mas com força estrutural).

Muitos fatores levaram a decadência de Pruitt-Igoe. Com tantos atores – o arquiteto, a cidade, os políticos, os moradores – era impossível prever a trajetória deste projeto. O incerto é a componente mais interessante para Simões, seja na hora de desenhar espaços, obras de arte ou mesmo sua própria vida. Com um software de arquitetura, ele realiza desenhos precisos de suas esculturas antes de realiza-las. Mas a perfeição não é algo fácil de se alcançar quando se molda concreto com as mãos ou se alinham centenas de folhas de papel ao contrario de quando se usa o CAD. Com o tempo, o concreto de Simões pode desenvolver pequenas fraturas e o papel pode enrugar, assim como aconteceram ao longo do tempo as mudanças no Pruitt-Igoe. Todos são vivos e, muitas vezes, imprevisíveis.

O trabalho de Simões é sobre edificações, suas estabilidade e decadência, as promessas de seus arquitetos e as consequência de suas existências. A frase no titulo da exposição, White Lies, implica uma certa inocência. Mas repensando à frase em termos de raça, porém, convida a reconsiderar a arquitetura moderna, seus protagonistas e seus efeitos sobre o mundo.”   

extrato do texto de Colin Doyle para a exibição White Lies